A memória é a aquisição e conservação de informações na mente humana. Podemos levemente compará-la a um caderno cheio de anotações, a um bloco de notas listando afazeres ou a uma agenda do celular com contatos, tudo salvo e pronto para ser acessado: os lugares, as palavras, as pessoas ou qualquer lembrança que tenhamos são conexões feitas automaticamente por nosso cérebro. A atividade mental é um sistema funcional complexo, envolvendo a participação de um grupo de áreas do encéfalo operando em sincronicidade. Assim, sendo uma função complexa, não depende de um “centro” com localização específica como já foi muito trabalhado e divulgado por pesquisas fundamentadas em busca do desenvolvimento cognitivo, mas da ação harmoniosa de diversas regiões encefálicas. Essa harmonia depende diretamente do estilo de vida, destacando-se 5 pilares: atividade física, alimentação, sono, treinamento cognitivo e equilíbrio do estresse. Falar da memória implica entender que não é automaticamente que vamos memorizar as coisas, tudo precisa de esforço e atenção. O cérebro é como um carro potente, que tem muitos cavalos, muita força, mas precisa que alguém pise no acelerador para que essa potência seja exercida, assim como no freio quando necessário recarregar a energia.
Alexander Romanovich Luria, um grande estudioso da mente, que é base da neurociência e neuropsicologia, estudou o Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Kazan (graduado em 1921) e graças ao seu interesse em psicologia, em 1924, foi convidado a participar do Instituto de Psicologia de Moscou. Desde então, contribuiu de forma conceitual com a interação do ser humano, suas capacidades e o meio ambiente. Interessante citar esse pesquisador por entender também que não dependemos apenas de reações bioquímicas e informações genéticas. Muitos devaneios em relação a psiquê humana é responsabilidade do próprio comportamento de cada um no meio em que se vive. Muita gente reclamando de baixa memória e dificuldades de concentração, assim como de níveis de ansiedade elevados com dificuldades de concluir atividades necessárias para o seu desenvolvimento. A minha intenção aqui não é te dar uma receita de como memorizar mais, isso não existe. Primeiro temos que saber que para conseguir armazenar informações é necessário estar presente, escutando ou vendo o que se tem como objetivo de guardar. Cada pessoa tem o seu modo de memorizar: visual, auditivo, sinestésico, etc. O armazenamento das informações na mente humana pode ser definido como: memória de trabalho, memória de curto prazo e memória de longo prazo. Dando maior atenção para as categorias de memória de curto e longo prazo, darei orientações de como potencializar a capacidade de cognição. Luria explora o cérebro como um sistema biológico aberto em constante interação com o meio físico e social em que o sujeito está inserido. A seguir 5 comportamentos que são de fundamental importância para a potencializar a memória:
01. Pratique exercícios. Em um artigo publicado na revista Nature Medicine, os pesquisadores brasileiros, ambos professores da UFRJ, apresentam um conjunto robusto de evidências de que o hormônio irisina, liberado pelos músculos durante a atividade física, é importante para a formação da memória e proteção dos neurônios dos efeitos tóxicos de compostos associados à origem do Alzheimer.
02. Estimule a mente. Faça “treinos mentais” que incluam ler, ir ao teatro, escutar podcasts, montar quebra-cabeças, jogar baralho, resolver palavras-cruzadas, etc. Procure também novos aprendizados, como um curso ou outro idioma.
03. Evite estresse. Ao longo do tempo, ele destrói as células cerebrais e danifica o hipocampo, que é a região do cérebro envolvida na formação de novas memórias e na recuperação de antigas. Estudos mostram que a meditação tem uma grande importância para reduzir os efeitos do dia a dia na mente humana.
04. Foco e organização. A neurociência vem mostrando, através de estudos, que com o aumento do número de informações e atividades diárias, é necessário organizar nossas ideias e pensamentos para que consigamos perder menos tempos e focar no que é mais importante.
05. Dormir bem. O sono é reparador e facilita que no dia seguinte seu corpo esteja preparado para continuar memorizando o que for necessário. Contudo, dormir demais é altamente limitador e dificulta a execução de atividades em tempo hábil, potencializando o estresse e, consequentemente, reduzindo a produção do neurotransmissor dopamina, essencial para a memória e autoconfiança.
Quando a gente fala de memória, parece que estamos falando de uma "entidade". Ela tem que ser bem tratada e estimulada desde o início de nossa vida. Hoje com um acervo de informação, principalmente ligado às redes sociais, aos fatores emocionais e à história de cada indivíduo, é preciso destacar que na neurociência não devemos avaliar a memória como uma entidade isolada de tudo, principalmente da vida afetiva, emocional e comportamental. Os mecanismos que nosso cérebro tem para se desenvolver positivamente, também tem para a sua proteção. Ferramentas podem ser utilizadas para exercitar e expandir a capacidade de memorização, mas o que vai potencializar as interações e construções é de fato mais complexo. Tudo aquilo que tentamos e não conseguimos, é curioso e investigativo notar que tem algo atrapalhando. Para melhorar a sua memória não adianta você utilizar as maiores ferramentas, ler os melhores livros, seguir os grandes neurocientistas se a sua mente estiver sendo bombardeada por:
01. Açúcar e adoçantes. David Perlmutter, renomado neurologista americano e autor de vários livros, cita que existe uma relação muito direta entre maiores níveis de açúcar no sangue e o Alzheimer, ou seja, quanto mais açúcar no sangue, maior o risco de encolhimento do centro da memória, marca principal da doença. Também podemos relacionar o consumo do açúcar à ansiedade, o que dificulta o poder de concentração e consequentemente o de memorização. Tenho um texto publicado no qual eu trato de forma mais aprofundada sobre açúcar e cérebro, clique aqui e leia-o quando terminar este.
02. Gorduras saturadas. Esse tipo de substância, que está em quantidade excessiva nos alimentos industrializados (Leite industrializado, bolachas, frituras, embutidos, fast foods, etc.), pode acelerar a perda da memória, causa processos inflamatórios que afetam o funcionamento das células nervosas, inclusive os neurônios – responsáveis pela maioria das atividades do corpo humano.
03. Bebidas alcoólica. A absorção do etanol ocorre no sistema gastrointestinal e compromete a chegada de nutrientes ao cérebro, incluindo a de sinais do sistema nervoso que solidificam a memória. Esse processo, sendo frequente na vida do indivíduo, chega a envelhecer os setores responsáveis pela memorização com maior velocidade e também libera outros inibidores de dopamina e serotonina.
04. Alguns medicamentos. Existem fármacos que afetam o hipocampo, sendo que pesquisas apontam a necessidade de uma atenção com a utilização prolongada de substância para depressão, insônia, diabetes e colesterol. Mantenha seu médico/nutricionista sempre informado(a) caso existam sintomas de redução da memória.
05. Cigarro. A nicotina não só causa envelhecimento precoce, ela afeta a respiração, representando um risco para o pulmão; afeta a produção e função dos neurotransmissores, apertando os vasos capilares, que são pequenos vasos sanguíneos que desempenham um papel fundamental no que se refere à função cerebral. Também podemos incluir os eletrônicos que estão na "moda" e geram o mesmo comprometimento pulmonar, reduzindo a circulação de oxigênio e comprometendo também a memória.
A memória é simplista, não necessita de grande esforço. Para mapear funções cognitivas, é necessário se perguntar: "será que é memória mesmo?", "Em que momento de vida essa memória começou a ficar debilitada?". Antes de diagnosticar, é necessário avaliação em contexto de tireóide, menopausa, andropausa, inflamações sistêmicas, ansiedade, produção e aproveitamento hormonal, obesidade, privação de sono, síndrome de Burnout, etc. Existe um termo na neuropsicologia chamado Dicotomia funcional do Cerebelo, essa região pode estar envolvida em doenças como esquizofrenia, transtorno bipolar, demências neurodegenerativas, déficit de atenção, hiperatividade e depressão. Quero destacar que nesses casos também há uma redução da capacidade de armazenar informações, reforçando que a memória não é uma entidade, ela faz parte de todo um contexto orgânico. Se hoje você observa que tem tido dificuldades de aprendizagem, concentração e memorização, em primeiro lugar avalie o seu estilo de vida, melhore o seu ambiente, determine regras e faça acompanhamento com profissionais qualificados. Memória é seletiva. Se você realmente der importância ao presente e evitar ficar vagando o pensamento pelo passado e futuro, terá uma seleção não apenas intencional ao que deseja gravar e aprender, mas, também, funcional.
Um livro do Charles Duhigg, chamado O poder do hábito, diz: “Se você acredita que pode mudar – se faz disso um hábito –, a mudança se torna real.” Gosto muito de me situar na ciência de forma que possamos eliminar interferências, observe a natureza e o seu funcionamento: enquanto não há desorganização (por parte do homem) está tudo organizado. Então quer melhorar a sua memória?
Esteja presente no presente.
Treine. Memorize uma sequência de 5 palavras, depois 10, depois 20, depois 30.
Não durma com o quarto 100% escuro, deixe o sol entrar pela manhã.
Leia um livro, do Luria, chamado: A mente e a memória.
Junto ao seu nutricionista, veja fitoterápicos como Resveratrol, Coenzima Q10 e minerais como Zinco e Magnésio para facilitar a comunicação neuronal e possivelmente reduzindo danos do estresse diário. Também é importante verificar exames bioquímicos, ajustando possíveis deficiências.
NUTRICIONISTA, PÓS-GRADUADO EM NUTRIÇÃO ESPORTIVA, ORTOMOLECULAR, CURSANDO NEUROCIÊNCIAS PELA PUC-PR E CURSO EXTENSIVO DE NEUROPSICOLOGIA NO HOSPITAL SIRÍLIO LIBANÊS-SP.
JAYME ASSUNÇÃO
CRN 11090
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